O branco das sombras chinesas

António Cabrita,João Paulo Cotrim

9.00

“A única vida que entusiasma é a vida imaginária”, registou Virgínia Woolf no seu diário a 21 de Abril de 1928, ainda os autores não passavam de uma reminiscência liquidamente pagã no escroto dos avós. E é incerto – as lesões da memória não nos deixam precisar – que tenha sido a um 21 de Abril o primeiro encontro entre ambos. E também, para quê encontrarem-se no mais cruel dos meses, perguntariam Elliot e Champalimaud? O que importa é que os signatários se criam sintonizados em certas afecções lunares e apostavam que o faro para o reencontro com certa elegância perdida do espírito – só essa nos importa, pois não é mortalmente banal um mundo feito de magros sem cheta? – não se situa no pendor descritivo em que decorre a maior parte dos convívios – ele disse-me que ela ouviu a uma ascensorista de Belém que os ténis do Sócrates são Timberland… – mas no absoluto redemoinho de ideias e élitros, posto ser a amizade um músculo inacabado que exige para além de mútuo consentimento algum trabalho de espaldar, mira e alguns tirinhos de permeio. Tornou-se vulgar que um dos dois, chegado à mesa, atirasse de chofre um hoje sonhei que tinham sido espremidos todos os limões do mundo, desencadeando as mais generosas fantasias, as mais combativas gargalhadas.
Daí à escrita de folhetim a mielas – magnificamente ilustrado por João Fazenda, e servido em outro diário, este nosso Diário de Notícias, à razão de duas doses semanais durante o Verão quente de 2001 (de 2 de Julho a 28 de Agosto), faz agora uma década de misérias – foi passo natural, tão natural como a sede. Seguiram-se semanas de divertimento rabelaisiano, até insubornável, pois a voltagem que nasce do entusiasmo nunca será objecto de comércio, e disso nem a morte conseguirá privá-los.
Lida à distância, com o alheio que os anos emprestam ao nosso olhar, a noveleta, o folhetim policiário, como o desorbitado leitor quiser baptizar, surpreendeu os autores porque não se esgotava na paródia e exibia ainda alguma energia genesíaca, algo que talvez resultasse das núpcias entre o humor chandleriano e a narrativa aérea, desprendida e louca de Robert Arlt. Por isso decidimos reabilitá-la às traças da memória e fazer segunda oferenda, que se quer inaugural de rasgos maiores por abismados.
Que não seja tão grande o compasso para a terceira edição, eis tudo quanto almejam por ora. E talvez a um Romeo y Julieta N.º 2, soprado por entre suaves whiskeys de pronome Bush e destilações variáveis, se fizer favor.
O mais é da ordem do sigilo: shiu!
Prefácio dos autores

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Grafismo: Elisabete Gomes / Silva Designers
Ilustrações: João Fazenda
Miolo: 80 páginas, sendo 64 a 1/1 cor, em Cyclus Offset de 90 grs + 16 páginas a 2/2 cores, em Igloo Offset de 140 grs (cadernos alternados )
Capa: KeayKolour Liso Branco Puro de 300 grs,
costura à linha na lombada

Data: Set-2011
Edição: #001
ISBN: 9789899744806
Dimensões: 15 x 28 cm
Núm. páginas: 80 págs

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