Pintar as festas

Há um momento na nossa tenra idade em que os nossos pais nos tiram os lápis de cor e os substituem por uma bola ou por uma boneca. Nesse momento deixamos de ser desenhadores, ou pintores, e passamos a uma existência de queixume pela falta dessa costela flutuante criativa. Acho que é por isso que hoje tantos adultos se atiram aos livros de pintar. É o regresso a um desejo reprimido.
Para aliviar estes sintomas estão aqui selecionadas uma série de personagens que já desde 2014 tenho vindo a desenhar para a EGEAC no âmbito das FESTAS de LISBOA: um Santo António de Lisboa, casamenteiro por norma, namoradeiro por natureza, cumprimenta com a auréola quem passa. Um marujo guitarrista arranha uma guitarra-bacalhau. Um cantor disco-pop-xunga que encanta ao palco e que é elétrico na micro-sardinha e acústico no salpicão. […] Um marujo apaixonado pela peixeira que, por intuição lógica, lhe oferece um ramo de sardinhas. E muitos Corações Manjericos que desenham amores fugazes, trapalhões, que podem nascer nas Festas e nas Festas desaparecem, ligeiros. Estes e outros mais, do presente e do passado, daqui e de além-mar, dissimulados ou inocentes, ajudaram a colorir as FESTAS de LISBOA, mas foram surgindo uns anos antes, sobre pinceladas inspiradas nas gentes e histórias dos bairros desta cidade onde vivo, desde o Bairro Alto à Bica e de Alfama à Mouraria, bairro que amo e que desde há séculos se pinta de todas as cores do Mundo.
NUNO SARAIVA, na Apresentação