Um dia não são dias

Antes de mais, e para nos poupar a equívocos, estamos aqui para falar de um livro de filosofia. Não é um livro literário, apesar de aqui e ali podermos ser levados no engano das descrições mais ou menos pessoais e de algumas imagens poéticas. UM DIA NÃO SÃO DIAS é um livro de filosofia, um livro escrito por um filósofo. Também não se trata de um livro sobre filosofia, isto é, um livro que sublinhe e explicite pensamentos anteriores. É um livro de filosofia, um livro que rompe fronteiras na história do pensamento. O que faz então deste livro de ANTÓNIO DE CASTRO CAEIRO um livro único na reflexão sobre o humano, passível de ser acusado de livro de filosofia, ao invés de livro sobre filosofia? Que o humano não é tempo e espaço. O humano é o tempo e o espaço de uma semana, isto é, nós somos a relação que os dias estabelecem entre si numa semana, entre si e nós mesmos. Não há humano sem dias, e um dia não é uma medida de tempo, mas uma medida em relação a outros dias no contexto global de uma semana. Uma semana não é somente tempo, uma semana é uma organização humana do tempo. O universo, a natureza não têm dias, não têm semana; o humano tem.
Nós somos literalmente sete dias repetidamente até ao fim. E nós a ser estes sete dias eternamente, no eterno que uma vida humana possui, reflecte a própria imagem de Sísifo levando a enorme pedra de Domingo à noite até ao cume de Sexta-feira à noite e ao paraíso do fim-de-semana, para depois assistir de novo ao rolar da enorme pedra montanha abaixo, antecipando o que novamente lhe espera, durante os próximos dias. Para Heidegger, por exemplo, o tempo humano era o tempo, para Caeiro, o tempo humano não é apenas o tempo, que lhe surge demasiado abstracto para dar conta do que nos acontece. O nosso tempo é a semana. Mais: o humano é a semana, o tempo da semana, o espaço da semana com os seus sete diferentes gomos em forma de dias.

Paulo José Miranda, da Apresentação