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Crer ou não crer

Nuno Miguel Guedes, no Hoje Macau (8 Abril 2021)

«Eu sei que ao professar-me cristão e católico – coisa que na verdade só a mim me importa – vou suscitar caricaturas e análises históricas sobre a instituição da Igreja e dos seus terríveis erros. Pouco interessa a liberdade do individuo escolher ou sequer a possibilidade de que essa escolha seja sincera e sustentada até – surpresa! – pela razão. Milénios de teologia são descartados como uma brisa em favor do imediato. E tudo se torna estranho quando o imediato prefere alinhar chakras, fazer trânsitos astrológicos ou analisar “auras”. Como escreveu Marcelo Franco, num texto notável numa rede social – uma raridade , ainda por cima -, «Crer tornou-se coisa de supostos idiotas. O cidadão tira o sapato para entrar numa mesquita, mas acha que jejuar seja coisa de retardado. Segura na mão de amigos e diz, numa roda espírita, “Tem alguém aí?”, mas ainda assim se ofende quando ouve “Creio em Deus Pai”. Lê sobre Buda sem pensar em Santo Agostinho. Veste uma cuequinha branca no Réveillon e, absoluto, do alto de suas certezas, acredita que dois mil anos de teologia existam somente para o diminuir e para tolher sua liberdade, logo ele, tão próprio, tão assertivo.»»

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