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Faz-me um desenho

Crítica de Paulo José Miranda a «As orelhas de Karenin», de Rita Taborda Duarte (Colóquio-Letras 206 Janeiro 2021)

«As orelhas de Karenin» é um livro que, antes de mais, nos faz questionar o modo como apreendemos a leitura. O que é ler? O que é pensar aquilo que se lê? A poesia e o desenho são o veículo para estas reflexões e para uma proposta original de leitura. Como reflexo da leitura, aparece a vida. Do mesmo modo que lemos, vivemos. Seguros de que acompanhamos a cada passo o que está a ser descrito, o que está a ser vivido ou já foi vivido. O título remete-nos desde logo para duas linhas fundamentais do livro, através do qual tudo se passa: o enigma e a tradição. {…] Quanto à tradição, ela é antes de mais a tradição da linguagem, não so através do contínuo diálogo de citações. mas também da inovação dos autores – de Herberto a Nabokov, do livro de Job a Sérgio Leone e a Morris e Goscinny – e fundamentalmente a invocação dos mitos e das personagens clássicas. Estes, mais do que a invocação, são parte do corpo do livro. Melhor seria dizer que os mitos e as personagens clássicas são o húmus do livro.»

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