Publicado em

«Cálice», de Luís Carmelo, lido por Francisca Moura

«“Cálice” é um livro surpreendente, pelo arranjo e pelo arrojo lexical, lançado publicamente no último festival literário Correntes d´Escritas, mesmo antes da pandemia nos ter confinado. Complementado por “Ciclone”, no prelo, materializam em conjunto o desafio do autor de regresso às origens em diálogo com as figuras do pai e da mãe. Uma tarefa pelo próprio sentida como difícil e complexa, pela especial activação e sistematização de experiências e de subjectividade, partindo de dados concretos, vividos, para uma exposição da biografia que, de alguma forma, pode ser considerada poética.
Trata-se de um livro dividido em três partes, numa trajectória que passa por três gerações de uma família, acompanhando as suas metamorfoses e a procura de sentido e sobrevivência. O relato começa em plena ditadura, nos anos 30, com a escola, os pais, as sucessivas casas, o misticismo e o sonho de Álvaro G., personagem enigmática que partilha excertos de memórias secundados por reflexões intimistas, muitas vezes poéticas, outras tantas pragmáticas, sendo esse, talvez, um dos mais interessantes traços do autor: a sua capacidade de adornar o quotidiano, retirando-lhe banalidade e acrescentando-lhe interioridade.»

Deusmelivro (15 Janeiro 2021)

Share