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Há um Cadáver Esquisito que bebe cerveja

Pedro Miguel Silva entrevista João Paulo Cotrim a propósito do projecto Cadáver Esquisito (Deus me Livro, 20 Outubro 2021)

Que cadáver esquisito é este que a Abysmo desenterrou, num caixão que vinha carregado de paletes de cerveja?

Desenterrámo-lo do nada. O mecanismo do Cadáver Esquisito é uma espécie de maratona, feita na hora, no sentido de ser a conjugação de vários sabores, em várias áreas, que não apenas a literária. Temos o mestre cervejeiro, o João Brazão, que é também um grande leitor, e que de repente descobriu em autores mais ou menos relacionados com a Abysmo a mesma paixão pela cerveja. Uma bebida que tem um universo suficientemente rico, comparável ao do vinho, e que normalmente desconhecemos, falando dela como uma espécie de refresco que se bebe muito fresco e no Verão. Só mais recentemente começámos a ter uma noção clara da sua riqueza cultural.

Que relação existe entre estes seis contistas e o mágico líquido amarelo?

O Afonso Cruz tem sido o grande embaixador da cerveja, sobretudo da artesanal, e até já se dedicou à sua produção. O Luís Carmelo praticamente só bebe cerveja, no contexto da Mymosa e da Abysmo está sempre de mini na mão. O Paulo José Miranda, um excelente avançado centro que fui contratar ao Brasil, foi-me buscar ao aeroporto e deu-me um curso intensivo e acelerado sobre a riqueza das cervejas de Curitiba. Curitiba é a capital da cerveja no Brasil, com uma universidade da cerveja, uma série de IPAs e muita experiência à volta da cerveja. O Luís Afonso teve, há cerca de vinte anos, a Vemos, Ouvimos e Lemos, uma livraria independente fantástica, muito competente que, para lá de toda a oferta literária, tinha um barzinho com um apreciável panorama de cervejas, que naquela época era impossível encontrar em Lisboa. Tinhas em Serpa e tudo por causa do gosto e do culto do Luís pela cerveja. O Valério (Romão) é outros dos casos que, embora não recusando o vinho – que é também o meu caso -, é também adepto da cerveja, em parte por causa da influência do Paulo Miranda e da muita reflexão, conversa e paleio que tivemos sobre a cerveja. Faria sentido que este primeiro volume reunisse estes autores e não outros.

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