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Faz-me um desenho

Crítica de Paulo José Miranda a «As orelhas de Karenin», de Rita Taborda Duarte (Colóquio-Letras 206 Janeiro 2021)

«As orelhas de Karenin» é um livro que, antes de mais, nos faz questionar o modo como apreendemos a leitura. O que é ler? O que é pensar aquilo que se lê? A poesia e o desenho são o veículo para estas reflexões e para uma proposta original de leitura. Como reflexo da leitura, aparece a vida. Do mesmo modo que lemos, vivemos. Seguros de que acompanhamos a cada passo o que está a ser descrito, o que está a ser vivido ou já foi vivido. O título remete-nos desde logo para duas linhas fundamentais do livro, através do qual tudo se passa: o enigma e a tradição. {…] Quanto à tradição, ela é antes de mais a tradição da linguagem, não so através do contínuo diálogo de citações. mas também da inovação dos autores – de Herberto a Nabokov, do livro de Job a Sérgio Leone e a Morris e Goscinny – e fundamentalmente a invocação dos mitos e das personagens clássicas. Estes, mais do que a invocação, são parte do corpo do livro. Melhor seria dizer que os mitos e as personagens clássicas são o húmus do livro.»

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Thomaz de Mello, designer total

«Se o abstraccionismo duma grande tapeçaria de Portalegre (1971, p. 241), vendida há oito
anos num leilão Cabral Moncada por 16 000 €, o dobro do seu valor-base, nos dá conta da
grande evolução plástica do pintor, e se o luxuoso álbum camoniano de 1972, já referido,
constitui «o canto do cisne do ilustrador» (Silva, p. 204), Jorge sublinha o longevo trabalho
expositivo de Thomaz de Mello, «talvez o mais relevante de todo o design português da
especialidade», por vezes «agregando competências de ideólogo, comissário e arquitecto» (p. 214).
Todavia, os seus derradeiros anos de vida são marcados pelo «ostracismo dos seus pares, que
deixaram Tom de fora de alguns dos eventos ligados à emergência de uma nova geração de
designers e da consciência do design como disciplina», o mais significativo dos quais, certamente,
foi a criação da Associação Portuguesa de Designers em 1976, de cujo movimento ele foi excluído
«sem grande surpresa» (Bártolo, p. 16). De pouco lhe valeu ter sido «um designer imprescindível»
(Bártolo, p. 9), «parceiro ideal das grandes empresas e instituições públicas» (Silva, p. 214). Assim
se compreende, afinal, o silêncio a que tem sido votado e que este notável livro põe agora fim,
abrindo também caminho a novas e continuadas inquirições.»

Vasco Medeiros Rosa, sobre «Tom – ilustração e design», de Jorge Silva, no Observador (16 Janeiro 2021)

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«Cálice», de Luís Carmelo, lido por Francisca Moura

«“Cálice” é um livro surpreendente, pelo arranjo e pelo arrojo lexical, lançado publicamente no último festival literário Correntes d´Escritas, mesmo antes da pandemia nos ter confinado. Complementado por “Ciclone”, no prelo, materializam em conjunto o desafio do autor de regresso às origens em diálogo com as figuras do pai e da mãe. Uma tarefa pelo próprio sentida como difícil e complexa, pela especial activação e sistematização de experiências e de subjectividade, partindo de dados concretos, vividos, para uma exposição da biografia que, de alguma forma, pode ser considerada poética.
Trata-se de um livro dividido em três partes, numa trajectória que passa por três gerações de uma família, acompanhando as suas metamorfoses e a procura de sentido e sobrevivência. O relato começa em plena ditadura, nos anos 30, com a escola, os pais, as sucessivas casas, o misticismo e o sonho de Álvaro G., personagem enigmática que partilha excertos de memórias secundados por reflexões intimistas, muitas vezes poéticas, outras tantas pragmáticas, sendo esse, talvez, um dos mais interessantes traços do autor: a sua capacidade de adornar o quotidiano, retirando-lhe banalidade e acrescentando-lhe interioridade.»

Deusmelivro (15 Janeiro 2021)

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«Aaron Klein» e «Os grandes animais» nos melhores de 2020 para a RUM

«Aaron Klein», de Paulo José Miranda, considerado o melhor romance português ((aos 23′ 26″) e «Os grandes animais», de Inês Fonseca Santos, um dos melhores livros de poesia do ano (30′ 25″), segundo a equipa da «Livros com Rum», António Ferreira e Sérgio Xavier (30 Dezembro 2020)

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Paulo José Miranda: Um pedaço de futuro puro

«Não encontro narrador para este livro, não encontro o autor, mas está lá: “todo aquele que escreve tem de ser visto aos olhos de si mesmo como uma criança que falta à escola.” E o oposto de escritor: “um homem com uma arma na mão não vai escrever um poema.”
O que é preciso para viver, o que é preciso para ser feliz? Os livros bastam ou “um mais zero dá uma solidão por muitos anos”? Resta-nos tentar ser “um pedaço de futuro puro.” E assim por diante. Gostei muito.»

Rui Miguel Rocha, no site Novos Livros

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